sábado, 11 de abril de 2015

FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS EM ALFABETIZAÇÃO


O contexto histórico sobre a alfabetização no Brasil oferece-nos um aporte fundamental para revelar como essa problemática configura-se atualmente. Salientamos que, por séculos, houve grande número de analfabetos no Brasil, compondo uma realidade que só veio a ser alterada a partir da difusão da escola pública gratuita e obrigatória, com o advento da República. Segundo Soares (1991, p. 9), “na verdade, o discurso oficial pela democratização da escola, seja na direção quantitativa, seja na direção qualitativa, procura responder à demanda popular por educação, por acesso à instrução e ao saber”. A alfabetização, por longo tempo, remetia apenas à simples codificação e decodificação dos códigos linguísticos, que foram sendo ampliados através da difusão das cartilhas para atender a demandas da sociedade. Os métodos tradicionais imperavam com suas cartilhas e lições, mas, de certo modo, apresentam algum sentido para aquela sociedade. Com o passar do tempo, novas necessidades começaram a emergir, especialmente diante do desafio que se foi instaurando com o advento da globalização, no final do século XX. O mundo letrado assumiu um espaço privilegiado na sociedade, e a aquisição de práticas de leitura e escrita tornou-se uma ferramenta indispensável, considerada uma meta de conhecimento a ser atingida por todos, diante da necessidade que os meios de comunicação e o acesso pelos meios informatizados requerem. No entanto, os métodos tradicionais de ensino da leitura e escrita não conseguem mais corresponder à formação dos cidadãos. No Brasil houve, a partir dos anos 80, com a chegada das teorias de Emília Ferreiro, inúmeras discussões acerca desse novo modo de pensar a alfabetização. A principal questão levantada era a eficácia e a falta de um método de trabalho no processo ensino-aprendizagem, uma vez que se trata de uma abordagem de ensino. Passadas mais de duas décadas do início das discussões e aproximações com os princípios construtivistas, continuam sendo discutidos pontos elementares desta teoria, porém os esforços para que, de fato, haja a efetivação desses princípios têm sido grandes por parte dos dirigentes educacionais. A presença dessa concepção educacional está em todos os parâmetros e referenciais para a educação nacional, mas ainda nos deparamos com interpretações equivocadas no cotidiano escolar. Atentando-nos a esse quadro contextual, a presente investigação tem como objetivo central identificar os saberes teóricos dos professores a respeito das bases construtivistas como fundamento para o processo de aquisição da língua escrita. Neste âmbito, identificaremos alguns problemas enfrentados pelos professores no planejamento de atividades de leitura/escrita, também incidindo sobre a relevância que se confere às atividades de leitura e escrita na realização das unidades escolares.

A formação de professores no Brasil é marcada fortemente pelos métodos tradicionais e tecnicista de ensino, ou seja, métodos com etapas definidas. Ambrogi (2009) ressalta que, a partir da década de 80 do século passado, com a chegada do construtivismo e do sócio-interacionismo, que são abordagens focadas na reflexão docente e em etapas não lineares, os professores caíram num vazio. O planejamento estruturado e as etapas de trabalho com começo, meio e fim deram espaço a uma postura mais reflexiva, postura até então desconhecida pelo professor. Outro fato advindo desta problemática entre formação de professores e as novas necessidades no dia-a-dia da sala de aula iniciou-se na década de 70, com a democratização de ensino. Ambrogi (2009) assinala que “esse fato gerou um estado de paralisia na maioria dos professores. Eles não sabiam o que fazer diante da demanda, desconhecida até então” (p. 5-6). As escolas foram abertas aos mais pobres, que, sem recursos, por muitas vezes não tinham dinheiro para o material escolar. Acesso esse importante, mas que não passou de uma jogada política do governo militar para se manter no poder, extinguindo o exame de admissão e implementando o primeiro grau com oito séries obrigatórias para toda a população. Passados mais de vinte anos da chegada da abordagem construtivista e sócio-interacionista no Brasil, e consequentemente dos estudos de Ferreiro e Teberosky (1999), a paralisia dos professores inicialmente ocorrida na década de 80 vem perdurando, visto que as avaliações realizadas em nível nacional só reforçam a deficiência em leitura e escrita das nossas crianças.

RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Questões realizadas Depoimentos dos professores 

Questão 1: O que você considera determinante para o sucesso de alfabetização de seus alunos? Interesse do aluno, dedicação do professor, apoio familiar. 

Questão 2: Você costuma ler livros, revistas, artigos sobre alfabetização? Cite algo que você tenha aplicado e que os resultados foram satisfatórios, ou algo que você tenha lido e aplicado e que os resultados não foram os esperados? Acho que são muito repetitivas as coisas. Mudam-se os nomes, muda-se a fonte, mas é muito repetitivo. Então o que eu tenho acesso mesmo é em roda de professores, de conversa ou na hora de trabalho pedagógico coletivo (HTPC). Por minha própria experiência eu fui construindo meu método de ensino. 

Questão 3: Você consegue associar algumas de suas práticas a alguma teoria já difundida? [...] normalmente eu relembro as coisas que vi no magistério e vou tentando fazer, mas normalmente vou naquilo que acho mais adequado, que está surtindo efeito, que está havendo troca, que vou aplicando e está sendo bem desenvolvido, senão eu volto atrás. Mas pra dizer que eu sigo à risca alguma coisa, eu não me recordo. 

Questão 4: Cite algum curso, palestra ou oficina que realmente contribuiu na sua formação profissional? Quais os conteúdos abordados? Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Letra e vida). Os conteúdos abordados focam-se nos princípios construtivistas no processo ensinoaprendizagem. 

Questão 5: Como você lida com os diferentes tipos de alunos (diferenças de níveis) em sua sala? Tento individualmente ajudar cada um pra ver o que eu posso auxiliá-lo, para que ele se desenvolva na melhor forma possível.

Podemos ressaltar que as práticas e os discursos dos professores ainda estão fortemente ligados à escola tradicional. O contexto histórico no qual este método era utilizado era muito diferente do de hoje, que exige habilidades e competências importantes para que os alunos se apropriem efetivamente da leitura/escrita, de forma a entender as complexas relações que se dão em contextos de ordem local e global. É importante salientar que esses discursos não são contrários ou favoráveis aos métodos tradicionais, já que vemos claramente que, em virtude dos documentos educacionais apregoarem os princípios construtivistas, os docentes, consequentemente, assumem uma posição que o valide, mas que na maioria das vezes não integram as suas práticas cotidianas. Assim, temos uma abordagem difundida e muito discutida no âmbito nacional, mas que se reduz a esforços institucionalizados sem o efeito idealizado por aqueles que realmente são os responsáveis diretos pelo processo ensino-aprendizagem, os docentes. Faz-se necessário pontuar que a conjuntura do processo de alfabetização e todas as suas especificidades é transversalmente definida por uma série de fatores imprescindíveis que asseguram o sucesso da alfabetização das nossas crianças. Penalizar o professor como o único responsável pelos alarmantes índices de crianças que ainda não leem e escrevem no final do ensino fundamental I constitui culpabilizar apenas um dos agentes desse processo. As políticas públicas, por sua vez, são fundamentais para a mudança dessa problemática, pois são os dirigentes educacionais que definem os programas, os objetivos, as metas que possam alterar esta realidade.

Disponível em: http://periodicos.uniso.br/ojs/index.php?journal=reu&page=article&op=view&path%5B%5D=487&path%5B%5D=488. Acesso em: 11/04/2015.

Imagem disponível em: http://eeappjardim.blogspot.com.br/2013/03/professores-app-formacao-continuada-dia.html. Acesso em: 11/04/2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário